terça-feira, 26 de junho de 2012

Nova safra de sertanejas canta a favor das mulheres 'pegadoras'


Se em 1960 queimar sutiã era uma boa forma de protesto contra a opressão feminina da época, décadas depois uma nova safra de sertanejas quer combater o machismo cantando músicas em resposta. Para mostrar que são descoladas e "pegadoras", resolveram fazer releituras de hits como “Ai se eu te pego”, de Michel Teló, e “Balada”, lançada por Gusttavo Lima.

Naiara Azevedo (Foto: Divulgação)
Adele do sertanejo

Naiara Azevedo (ouça as músicas no site oficial) se considera uma "Adele do sertanejo". Compõe de forma autobiográfica. As canções são como uma lição para ex-namorados ou casos. Foi com base nesse principio que escreveu “Coitado” (leia letra e ouça música). A letra é uma sátira da música “Sou foda”, do grupo de funk Avassaladores, e desdenha da potência e do desempenho de um homem: "Antes de eu me esquecer, só para você saber, todos, todos que provaram são melhores que você. Traição é traição, romance é romance. Amor é amor, e com você foi só um lance”, diz o refrão, que já tem até versão em espanhol. Embora evoque uma mulher pegadora, a personagem de suas canções não deve ser confundida com uma “periguete”. Ao cantar a favor da liberdade feminina, Naiara afirma que não pretende estimular um comportamento vulgar. “Se eu quero, vou lá e pego. Valorizo a mulher bem resolvida e cheia de atitude. Canto para inflar nosso ego. Eu reverto tudo que eu escuto. As letras se propõem a responder o que os homens pensam que são”, explica.


Stand up music
A versão feminina de “Ai se te pego" - renomeada como "É ruim que você me pega" - rendeu fama instantânea a Gizely Dell. Cantora de bandas de baile desde os 12 anos, já tinha tentado decolar na música sertaneja em 2006, ao formar dupla com Kleber Santos. Em 2008, quando encerrou a parceria, passou a viver apenas como professora de música em Curitiba. Voltou a cantar depois de gravar à sua maneira o sucesso de Michel Teló. "Affe, se acha, a última bolacha. Cai fora, cai fora, que eu não vou te dar bola. É ruim que você me pega, é ruim que você me pega", diz a canção feita por Gizely (Veja vídeo com a música "É ruim que você me pega"). “Fiz no estúdio de um amigo, totalmente sem produção, de brincadeira. Publicamos no YouTube e em poucos meses já tínhamos mais de 4 milhões de acessos.” A releitura, embora rechace a postura machista dos homens, tem objetivo cômico. “Eu não gosto de homem que se acha, quis dar uma reposta defendendo as mulheres. Vejo que as músicas geralmente são apelativas. As minhas não falam bobagens. Gosto de compor brincando com as questões que me incomodam ou inspiram.”



Katia Rosa  (Foto: Divulgação)

Cartilha

Katia Rosa (ouça as músicas no site oficial) é professora de uma escola pública em São Paulo de segunda a sexta. Nos finais de semana, engorda o orçamento como intérprete em bandas de baile. Há dois anos, investe o salário de professora na carreira musical. Em novembro de 2011, lançou CD. Aos 36 anos, afirma que tem dificuldade para ser aceita como cantora sertaneja e diz sofrer preconceito por conta da idade. “Tem gente que me acha velha para frequentar essas baladas, para cantar esse tipo de música. Não é fácil.” Apesar do esforço, a visibilidade só veio quando ela, inspirada no sucesso da colega Nayara Azevedo, reescreveu “Balada”, hit na voz de Gusttavo Lima. “Foi uma estratégia de marketing e uma brincadeira também. Sempre gostei muito dessa música, sentia uma energia boa. Dissequei a letra e fui compondo respostas para as afirmações machistas.” A paródia de Katia, entretanto, é bem suave perto das demais. "Eu já escovei meu cabelo, fui lá no salão. (..) Gato, te espero, mais tarde lá em casa, quero curtir com você essa balada. Dançar, pular, até o sol raiar. Que eu vou deixar rolar o Tche tche re re tche tchê". (Ouça a versão feminina de "Tche tcherere tche tchê"). A cantora revela que as fãs lavam a alma ao se sentirem representadas nas letras de resposta. Para ela, não é necessário sempre  xingar os homens. Basta não fazer papel da coitadinha ou traída. Além de fama, a pedagoga quer revolucionar (ou "educar") o meio musical. “O sertanejo universitário sempre foi uma vertente masculina. A maioria das letras trata a mulher apenas como objeto de desejo sexual. Passamos anos caladas, agora estamos conquistando nosso espaço pra cantar o que pensamos.”

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